Diz-se que no começo não havia nada. Mas, então, quem e como começou tudo, se não havia tempo, gravidade, luz, terra, água, astros, animais e seres humanos? Na Bíblia, no Antigo Testamento, em Gênesis, Capítulo 1, está o seguinte registro: No princípio criou Deus o céu e a terra … E disse Deus: Faça-se a luz. E foi feita a luz …
Disse também Deus: Faça-se o firmamento no meio das águas, e separe umas águas das outras águas … E chamou Deus ao firmamento Céu; e da tarde, e da
manhã se fez o dia segundo … E chamou Deus ao elemento árido Terra, e
ao segundo agregado das águas, Mares. E viu Deus que isto era bom.
Disse também Deus: Produza a terra erva verde, que faça semente, e
produza árvores frutíferas, que deem fruto, segundo o seu gênero, cuja
semente esteja nelas mesmas sobre a terra. E assim se fez …
Dos versículos 19 a 25, desse Capítulo, a escritura sagrada traz como Deus
criou os animais das águas e da terra.
No Versículo 26, consta: E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança … Essa, pois, é a história cristã sobre a origem do universo e de tudo que o constitui.
Aristóteles (filósofo grego – século IV a.C), na obra denominada Metafísica, apontou quatro causas para qualquer coisa existir: causa material, causa formal, causa eficiente e causa final.
A “Primeira Causa” seria o impulso inicial da criação. Esse filósofo chamou de “Causa Eficiente” como a “Causa Primeira”, que deu origem ao ser ou objeto, ou
seja, aquilo que foi responsável pela criação.
“Primeiro motor imóvel”, conjecturou Aristóteles, como o primeiro causador de tudo no mundo que não tenha sido impulsionado por nada e nem por ninguém, pois ele foi o primeiro …
Tomás de Aquino, filósofo escolástico cristão do século XIII, adepto da filosofia aristotélica, relacionou o “motor imóvel” à criação divina em seu livro Suma Teológica, apresentando as cinco vias que provam a existência de Deus.
Assim, se recorrermos à filosofia e à lógica aristotélica, se antes não havia nada, precisa-se de alguém ou de algo para dar o “start”.
Costumam adjetivar o “Criador”, de “Deus das Lacunas”, quando não se tem resposta ou explicações para as coisas; ou seja, se a ciência não possui resposta ou explicação para determinado assunto, aí entraria Deus na “lacuna científica”.
Por outro lado, pensemos: sob a visão metafísica, um Ser acima do tempo, espaço ou da matéria não pode ser sujeito de análise científica. A ciência não consegue provar que Deus existe, mas também não prova que ele inexiste ou “não é”.
Não há, também, incompatibilidade em alguém ser cientista e religioso; temos
exemplos históricos, como Pascal (matemático e escritor francês) e Galileu
(“pai” da astronomia e da física moderna), ambos cristãos.
O chamado “Bóson de Riggs”, partícula elementar bosônica, teoricamente surgida após o “Big Bang” (fonte Wikipédia) é chamado na ciência de a “Partícula de Deus”, porque auxiliou a ciência a entender a origem da formação do universo (vide interessante matéria da BBC de 02/07/2022, “Como bóson
de Higgs mudou a compreensão do Universo”).
É a ciência, pois, com o “pé no metafísico”, mas ao mesmo tempo, em princípio, contrapondo-se à origem da criação do universo pregada na Bíblia. Interessante também a matéria do jornal “O Estado de São Paulo”, de 16 de fevereiro de 2025,
sob o título “Megaprojeto quer decifrar os neutrinos e a origem do
universo”.
O Professor da Unicamp Pascoal José Giglio Pagliuso, ouvido na
matéria, afirmou que: “Entende-se que ao estudar o neutrino, conseguiremos resolver mistérios da origem do Universo, como buracos negros, e a composição da matéria escura”.
Laboratórios estão sendo construídos nos EUA para abrigar o experimento e a China também está na corrida para entender a partícula, segundo a matéria jornalística. O livro “A origem das espécies” de Darwin, publicado no século XIX, sobre a evolução através da seleção natural é até hoje objeto de muita discussão e controvérsia, causando uma “queda de braço” entre a fé e a ciência.
À época de Darwin, a sociedade baseava-se na crença de que Deus controlava todos os processos naturais e estes seriam fixos, e não em transformação, como teorizou Darwin, gerando, assim, notório impacto sobre o pensamento religioso.
Transmitiu Kant (filósofo do século XVII), na sua obra, Crítica da Razão Pura, que entre o homem e o mundo há algo de transcendental. Para ele o espaço e o tempo são conceitos transcendentais, fazendo a distinção do que é uma coisa em si e o fenômeno dessa coisa – aparição dela.
Para Kant, ao homem só é dado a conhecer as coisas que aparecem em sua mente, e não a coisa em si mesma (Idealismo Transcendental). Enfim, mistérios permanecem …
A fé e a ciência, como se percebe, procuram, cada qual na sua ótica, explicar a
origem de tudo. Será que o futuro reserva à ciência ratificar a origem de tudo por Deus (como está na Bíblia), reconhecendo-se, assim, a sua existência?
Fechando sobre esse intrigante tema, Parmênides (filósofo grego – nascido 500 a.C) no Poema “Sobre a Natureza”, Fragmento 8, filosofa: “Como existiria depois, o que é? Como teria surgido? Pois se surgiu, não é, nem se há de ser algum dia. Assim origem se apaga com o insondável ocaso”.
Adelmo Pinho é articulista, cronista e membro da Academia de Letras de Penápolis e da Academia Araçatubense de Letras. *