O Papa Francisco, que faleceu nesta segunda-feira, 21, aos 88 anos, após complicações respiratórias e infecciosas, será sepultado conforme as novas diretrizes que ele mesmo aprovou em 2024 para os funerais pontifícios. A reforma, consolidada na segunda edição do Ordo Exsequiarum Romani Pontificis, rompe com séculos de tradição e reafirma o compromisso de Francisco com uma Igreja mais simples, acessível e pastoral.
Entre as principais mudanças estão a abolição do uso de três caixões – cipreste, chumbo e carvalho – substituídos por um único caixão de madeira com interior de zinco, o fim da exposição do corpo sobre o catafalco, a eliminação do báculo papal, e o uso de títulos mais simples como “Bispo de Roma” e “Pastor”, em vez de “Romano Pontífice”.
As instruções, publicadas pelo Escritório para as Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice e entregues a Francisco em 4 de novembro de 2024, foram redigidas sob orientação direta do papa. O arcebispo Diego Ravelli, mestre das Celebrações Litúrgicas dos Pontífices, explicou que o objetivo era tornar as exéquias do papa uma expressão de fé na ressurreição, e não um ritual marcado pela ostentação. “O funeral do Romano Pontífice é o de um pastor e discípulo de Cristo, e não de uma pessoa poderosa deste mundo”, afirmou Ravelli.
O velório seguirá três estações litúrgicas, com adaptações importantes. A constatação da morte ocorrerá na capela privada da Casa Santa Marta, onde Francisco morava, e não no quarto em que faleceu. O corpo será colocado diretamente no caixão e levado à Basílica Vaticana. Lá, será exposto com a tampa aberta, mas sem o uso de plataforma elevada nem símbolos de poder.
Outro rompimento histórico é o local do sepultamento. Francisco será enterrado na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma – a primeira vez em mais de um século que um papa não será sepultado na Basílica de São Pedro. A escolha reflete sua devoção mariana e seu vínculo com a igreja que frequentava desde os tempos de cardeal em Buenos Aires. Em entrevista de 2023, ele revelou: “Quero ser sepultado em Santa Maria Maggiore por causa da minha grande devoção”.
A basílica foi também o primeiro lugar que Francisco visitou após ser eleito papa em 2013, e onde retornava após cada viagem apostólica. Durante a pandemia de covid-19, foi novamente ali que buscou consolo e oração. A igreja guarda ainda uma forte ligação com os jesuítas, ordem à qual Francisco pertenceu, sendo o local da primeira missa de Santo Inácio de Loyola, em 1538.
Ao rejeitar o Palácio Apostólico, optar por viver na Casa Santa Marta e agora escolher seu local de sepultamento fora do Vaticano, Francisco completa um ciclo de desapego aos rituais e estruturas tradicionais. Como ele próprio expressou em diversas ocasiões, sentia-se “engaiolado” nos protocolos do Vaticano, e buscou até o fim de sua vida aproximar a Igreja de uma postura mais evangélica, centrada na humildade, na fé e no cuidado com os pobres.
Com sua morte, o Vaticano entra em sede vacante e os cardeais se preparam para um novo conclave.
Fonte: Migalhas