Por Thiago Mendes*
Até julho de 2023, oficialmente, eu não era pai. Naquele mês e ano, eu e minha esposa Liliane fomos até a cidade de Campo Grande (MS) buscar o nosso filho Vitor.
Vitor é nosso filho adotivo. Iniciamos nossa luta por ele no ano de 2022 e, em 2023, recebemos a guarda provisória dele, que se efetivou agora em 2025, com o seu registro em nosso nome.
Minha esposa é professora, psicopedagoga com especializações em autismo e deficiência intelectual. É interprete de Libras, pós-graduada em Análise do Comportamento Aplicado e agora estudante do quarto ano de fonoaudiologia. Já eu, bacharel em Direito e corinthiano, ou seja, sou chato.
Nosso filho Vitor é surdo, nasceu assim, ou seja, a partir de 2023, eu me tornei um “pai ouvinte de uma criança surda”.
Confesso que eu não sabia muito sobre Libras e direitos da pessoa surda, não era a minha área de atuação. Aos poucos, fui entendendo, estudando e me inteirando dos diversos desafios de ser pai de uma pessoa surda.
Posso dizer com toda a certeza que os principais são educação e comunicação. Somente a partir deste entendimento, soube o quanto as datas de 23 e 24 abril, que me passavam despercebidas, são importantes.
Em 23 de abril, comemora-se o Dia Nacional da Educação de Surdos; já em 24 de abril, há a comemoração do Dia Nacional da Libras (língua Brasileira de Sinais).
A primeira data nos faz lembrar da importância da educação inclusiva e acessível para as pessoas surdas.
Uma curiosidade sobre o 23 de abril é que, no Brasil, a educação de surdos teve início, formalmente, em 1857, quando o professor surdo Eduard Huet veio para o Rio de Janeiro a pedido do Imperador D. Pedro II.
Com base em sua experiência anterior na França, através da fundação do Imperial Instituto de Surdos-Mudos de Bourges, inicia-se o processo de educação formal dos surdos no Brasil.
Já no Dia Nacional da Libras, a comunidade surda comemora identidade, inclusão e presença e, ao mesmo tempo, reforça os desafios, para que mais avanços sigam ocorrendo.
Há a comemoração nesta data, porque foi nela, no ano de 2002, que a Lei 10.436 reconheceu a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão.
Foi só em 22 de dezembro de 2005, porém, que o Decreto 5.626 regulamentou esta lei, incluindo Libras como uma disciplina curricular obrigatória na formação de professores surdos, professores bilíngues, pedagogos e fonoaudiólogos.
Quando matriculamos o Vitor na escola, logo pleiteamos um professor intérprete e, após algumas semanas, fora providenciado. Vimos como é importante essa profissional em seu desenvolvimento.
Ela, em conjunto com a professora regular, passou a adaptar as aulas e o conteúdo ao nível de aprendizado dele e de uma forma que ele pudesse compreender o que estava sendo ensinado.
Pudemos ver como a educação para surdos, aliada a uma linguagem de sinais, pode ser um marco ímpar para o desenvolvimento de pessoas como o nosso filho.
Vemos a cada sinal, cada aprendizado que adquire, o quanto o mundo se abre a ele, que possui uma língua pela qual pode expressar suas vontades e questionamentos.
Fiz questão de trazer este texto para que as pessoas possam despertar para a importância da educação para pessoas surdas. Como é importante que as nossas crianças aprendam desde cedo o uso da Libras!
Dados do IBGE apontam que mais de 10 milhões de pessoas no Brasil possuem algum grau de deficiência auditiva, e mais de 2,7 milhões possuem surdez profunda, como o Vitor.
Por isso, viva os dias 23 e 24 de abril! Dias que celebram a inclusão e a dignidade das pessoas surdas de nosso País.
Thiago Braz Mendes é advogado e pai do Vitor.*