Estudantes universitários da rede particular de ensino que residem na zona rural de Araçatuba (SP) estão, literalmente, a pé, desde o dia 30 de abril, quando a Secretaria Municipal de Educação suspendeu o transporte escolar para eles, sob a alegação de “impedimentos legais e contratuais”. Sem o serviço, eles se viram como pode para dar continuidade aos estudos e conseguir arcar com os custos da faculdade e da locomoção.
A decisão do município prejudicou pelo menos seis alunos que residem nos bairros da Prata, Pratinha, Jangada e Jacutinga. Até então, todos utilizavam o transporte disponibilizado pela Prefeitura, mas agora, precisam buscar alternativas para percorrer entre 15 km e 30 km até as suas respectivas faculdades, gasto que não estava programado e que pesa no final do mês para os seus familiares.
É o caso da agricultora familiar Márcia Antônia Biffe Barz, que reside na Pratinha e tem um filho que cursa o segundo ano de Direito na Unip e tem mais três anos de faculdade pela frente, até se formar.
“Agora, meu filho tem que ir de carro todos os dias. Chega no final do mês, tem que pagar não só a faculdade, mas o transporte também. Nós somos pequenos agricultores, fica difícil pra gente”, afirmou.
Ela conta que o ônibus da Prefeitura sempre levou os alunos. O veículo fazia a rota pelos bairros rurais da Prata, Pratinha, Jacutinga, Jangada e levava todos os estudantes, indistintamente.
Uma aluna só
Hoje, o transporte disponibilizado pelo município vai até a zona rural, mas leva apenas uma única estudante que faz o Ensino Médio no Instituto Educacional Manoel Bento da Cruz (IE), e segue vazio.
“Se ônibus vem até aqui, por que não leva os outros estudantes?”, questiona a trabalhadora rural Renata Helena de Poli Justino, 42 anos, que mora no bairro Jacutinga e está bem chateada com a decisão da Secretaria Municipal de Educação de suspender o transporte para os universitários que residem na zona rural.
Renata tem uma filha que cursa o segundo ano de Educação Física no UniSalesiano. Sem o transporte do município, a estudante depende de carona. Quando não consegue, a mãe leva a filha até a faculdade e fica esperando lá fora, até acabar a aula. “Está difícil”, lamenta.
Outra mãe, que tem uma filha no curso de Farmácia da Unip, também reclama da suspensão do serviço. “A gente mora muito longe e o gasto com combustível é muito alto, mesmo para quem vai de carona”, disse ela, que preferiu não se identificar.
Outro lado
Em comunicado enviado aos pais e alunos, a Secretaria Municipal de Educação afirma que a suspensão do transporte escolar é por tempo indeterminado para os alunos dos ensinos técnicos, tecnológicos, preparatórios ou superiores, “haja vista que impedimentos legais e contratuais inviabilizam o transporte.”
Ainda segundo o documento, a medida é necessária para evitar que caronas e/ou transportes irregulares de alunos não aconteçam. (Veja a íntegra do comunicado abaixo).

Alunos procuraram ajuda de vereador
Os estudantes procuraram ajuda do vereador Luís Boatto (Solidariedade), que falou sobre o assunto durante a 15ª sessão ordinária da Câmara de Araçatuba, realizada na última segunda-feira, 12.
Por meio de um requerimento, Boatto pediu informações ao município sobre o motivo de a Prefeitura parar de oferecer transporte público escolar para os alunos da zona rural matriculados em faculdades particulares.
“Estamos falando de jovens que estão querendo estudar. Estamos falando de jovens que vão ser prejudicados no ano letivo e que dependem exclusivamente deste transporte escolar para poder chegar na sua faculdade”, afirmou o parlamentar.
No requerimento de informação, que foi aprovado pelos demais vereadores, Boatto solicita os contratos do transporte de alunos e uma justificativa legal para a decisão de suspender o serviço para os estudantes da zona rural.
“São jovens que estão se esforçando para poder melhorar. São alunos que estão indo estudar. É isso que me deixa indignado. A Constituição diz que a educação é um direito de todos e dever do Estado, mas o que estamos vendo aqui é totalmente o contrário”, disse.