O poder do Estado e da Igreja

Adelmo Pinho discorre sobre a influência política, social, cultural, econômica e espiritual do Estado e da Igreja.
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Ao longo da história, Estado e Igreja dividem e detêm poder. Ambos têm influência e capacidade de moldarem a sociedade sob o aspecto social, cultural, econômico e espiritual. Na idade média a Igreja Católica detinha mais poder sobre os indivíduos e o Estado, controlando grande parte das decisões políticas importantes, terras e riquezas.

O poder espiritual e econômico da Igreja conferiu-lhe uma posição de destaque na sociedade medieval. Na idade contemporânea (pós-Revolução Francesa – século XVIII) o Estado separou-se da Igreja e das demais religiões. Deu-se a revolução industrial e a ascensão da burguesia, econômica e politicamente, gerando o sistema capitalista.

Com isso, a Igreja diminuiu a sua influência de outrora e o Estado se agigantou nesse aspecto. Mas, a Igreja ainda possui influência política e espiritual sobre bilhões de pessoas, ou seja, detém grande poder.

A Igreja em toda a sua história registra grandes feitos, como, também, erros e maldades. Sobre estas, o livro Tratado sobre a tolerância de Voltaire contém casos históricos de intolerância e fanatismo religioso.

Com o Estado, não é diferente; também existem erros, acertos, maldades e bondades. O nazismo (holocausto) foi o maior registro de maldade e preconceito da história por ação de um Estado.

Sobre o poder, em si, o imperialismo (política de dominação de poder de um país sobre outro) tornou-se a “bola da vez”, e o ultranacionalismo é que fomenta a sede de império. Hoje a busca da hegemonia e controle de determinados países sobre outros, com ou sem o uso de violência (guerras), tem sido palco do cenário mundial.

A xenofobia (aversão a estrangeiros), que possui origem em nacionalismo
extremista, aumenta a cada dia e imigrantes são apontados em muitos países com esse perfil como inimigos.

A guerra iniciada pela Rússia contra a Ucrânia; a política externa do governo Trump, de elevação da taxação das importações de vários países (inclusive o Brasil), além de sua investida para “comprar” o Canadá, são alguns dos exemplos de viés imperialista dessas grandes potências mundiais.

A China, por sua vez, usa de diplomacia, cresce e “vai comendo quieta pelas beiradas”. Constata-se, felizmente, por outro lado, importante movimento da Igreja (em especial a partir do papado de Francisco) em fazer contraponto ao imperialismo, ao ultranacionalismo, à xenofobia, à violência e ao ódio. Enquanto o governo norte-americano constrói muro em sua fronteira com o México (de quem tomou vários territórios na guerra entre 1846/1848), a Igreja
procura construir “pontes”, ou seja, unir povos e nações.

A eleição do papa americano-peruano, Leão XIV, desse modo, não é resultado do acaso. O perfil do novo pontífice é de um líder moderado, ponderado e reservado, o oposto das características do atual presidente dos Estados Unidos da América. Se este exerce grande influência política e econômica sobre países, aquele (o papa), o faz com base na sua doutrina e missão de líder mundial de bilhões de cristãos.

Não por acaso, também (acredito), que o novo papa, na sua primeira missa como líder da Igreja, anunciou que ela, enquanto instituição, atuará como “farol que ilumina as noites do mundo”. Essa metáfora papal deixou evidente a preocupação do pontífice com esse cenário mundial. A Igreja hodierna, assim, tal como muitas outras boas religiões e doutrinas, prega a unidade, a tolerância e a solidariedade entre povos e nações.

O que se espera de líderes de países e do novo papa é a efetiva construção de pontes de humanidade, de solidariedade e de tolerância, afastando-se, por consequência, “muros” de violência, ódio, discriminação e intolerância. Cabe-nos, enquanto cidadãos comuns, a conduta de fomentar e universalizar tudo o que é bom e ético, acolhendo sempre o próximo, sem distinção de origem, classe social, credo, gênero ou raça.

Nesse contexto, adequada e de suma importância a mensagem do lema episcopal de Leão XIV, In Illo uno unum (Em um só somos um), referindo-se ao escrito por Santo Agostinho sobre o Salmo 127 da Bíblia: “embora nós, cristãos, sejamos muitos, no único Cristo, somos um”.

Adelmo Pinho é articulista, cronista e membro da Academia de Letras de Penápolis e da Academia Araçatubense de Letras.

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