Por Matheus Lemes*
A paralisação dos serviços da Transportes Urbanos de Araçatuba (TUA) em parte do feriadão não é apenas um alerta, é a materialização de uma crise que se arrasta há anos e que agora bate à porta da Prefeitura e da Câmara Municipal com urgência e gravidade. O colapso do transporte público na cidade é fruto direto de uma longa trajetória de omissão.
Ao longo de diferentes gestões, a política de mobilidade foi terceirizada para a concessionária, enquanto o poder público se afastava do debate, limitando-se a repassar recursos sem exigir melhorias concretas. A conta chegou e quem paga, como sempre, é a população.
Hoje, a maioria dos ônibus opera sem acessibilidade para pessoas com deficiência (PCDs), ar-condicionado ou Wi-Fi. Os pontos de embarque são precários, e muitas linhas funcionam com horários reduzidos desde a pandemia.
As tarifas são altas, especialmente para quem depende diariamente do serviço, e a resposta das empresas tem sido, muitas vezes, precarizar o sistema para manter a lucratividade, inclusive desvalorizando o trabalho dos próprios funcionários.
Segundo a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), o subsídio médio em 251 cidades brasileiras é de 32%. Em Araçatuba, o índice é de 29%. Ainda assim, a qualidade do serviço segue em queda livre. Fica claro que apenas injetar dinheiro público não resolve o problema.
Defender o subsídio ao transporte coletivo é necessário, mas essa medida precisa estar atrelada a uma política pública séria, com metas claras e participação popular.
A criação de um Conselho Municipal de Mobilidade Urbana, substituindo o atual conselho de usuários, pode ser um ponto de partida para retomar o protagonismo do município na construção de soluções.
É urgente repensar trajetos, ampliar horários, investir em infraestrutura e modernizar a frota. A Prefeitura deve liderar esse processo com diálogo, transparência e coragem política. Explorar parcerias (como o uso publicitário nos pontos de ônibus) e revisar o modelo de concessão também devem estar na pauta.
Cidades que investem em mobilidade coletiva colhem benefícios econômicos, ambientais e sociais duradouros. Além disso, transporte público de qualidade não é luxo, é direito, instrumento de inclusão social e um fator estratégico para o desenvolvimento urbano, portanto é essencial incluir essa temática dentre as prioridades do novo governo.
Se nada for feito, o que se vê hoje tende a piorar: menos usuários, mais precarização, mais dependência de subsídios e um sistema fadado ao fracasso. Ainda há tempo de reverter esse cenário. Mas isso exige mais do que repasses financeiros: exige vontade de governar.
Matheus Lemes é formado em Letras pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ, professor da rede pública estadual e munícipe de Araçatuba.*