O pai dele dá nome a uma importante avenida de Araçatuba (SP). Ele próprio fez história na Terra dos Araçás ao integrar a primeira legislatura da Câmara Municipal. É considerado um dos moradores mais longevos da cidade, ao viver incríveis 107 anos. A história de José Ferreira Baptista Júnior, mais conhecido como Ferreirinha, é relembrada, agora, em livro, com um mergulho ao passado que permitiu remontar a sua genealogia e a de sua esposa, Maria Amanda Ladeia.
As origens e memórias do casal, que foi casado por 71 anos e teve 8 filhos, estão na obra “Genealogia das famílias de Maria Amanda Ladeia e José Ferreira Baptista Júnior”, escrita pelo filho Fábio Ferreira Batista. O livro será lançado neste sábado, 17, às 18h, na Biblioteca Municipal Dr. Rubens do Amaral.
A obra demorou três anos para ser concluída. Foram inúmeras pesquisas em Portugal e na cidade baiana de Caetité, terras de origem dos Baptistas e dos Ladeias, respectivamente. Consultas a documentos de cartórios e anos de estudos possibilitaram voltar a sete gerações do casal, com descobertas surpreendentes de seus antepassados.

Napoleão destruiu registros
No caso de Ferreirinha, só não foi possível recuar mais do que sete gerações, porque quando o imperador francês Napoleão Bonaparte invadiu Portugal, no final de 1807, os registros do lugar onde seu pai nasceu foram destruídos. Por isso, a pesquisa sobre os Ferreira Batistas foi até 1810, feita por um genealogista português contratado pelo autor do livro.
Seus antepassados eram pessoas pessoas simples, da zona rural, que viviam da agricultura, mais precisamente na aldeia Ninho d´Água, no distrito português de Santarém.
Para o Brasil
Em 1908, José Ferreira Baptista, pai de Ferreirinha, veio para o Brasil em busca de oportunidade, pois havia muita dificuldade e desemprego em terras portuguesas. Depois de passar um tempo na região Batatais (SP), o patriarca da família decide ir para Birigui (SP), onde se estabeleceu e teve o filho homônimo, que ganhou o apelido de Ferreirinha.
Mas, no ano de 1924, o patriarca compra uma máquina de beneficiamento de arroz e se muda para Araçatuba, cidade ainda adolescente, com 16 anos de fundação, à época. Ferreirinha, então com nove anos de idade (nascera em 31 de dezembro de 1915), aqui cresceu e desenvolveu sua carreira como contador e político.

Política e cadáveres
O filho do português de Ninho d´Água foi eleito vereador em 1947, para a primeira legislatura da Câmara de Araçatuba, de 1948 a 1951. Teve outros quatro mandatos como parlamentar e presidiu o Legislativo araçatubense em 1962.
O autor do livro conta que seu pai participava das sessões da Câmara, que funcionava no prédio onde hoje é atualmente o Banco do Brasil, na praça Rui Barbosa, e depois pegava o cavalo para ir para casa, na fazenda localizada no Córrego dos Espanhóis.
A obra, aliás, não traz apenas a genealogia dos seus pais, mas também muitas memórias. É o caso do episódio em que Ferreirinha, ainda um menino, se deparou com uma carroça abarrotada de cadáveres, na praça Rui Barbosa, reflexo da violência que assolava Araçatuba, palco de disputas entre jagunços comandados por diferentes grupos políticos.
Jornal e bairros
O livro traz, também, curiosidades da atuação política do pai do autor do livro. Ele relata que Ferreirinha lia o jornal pela manhã, todos os dias, para saber onde estavam os problemas da cidade e depois seguia para os bairros, onde conversava com as pessoas, para depois buscar e implementar as soluções.
“Meu pai trabalhou muito para a remoção dos trilhos da estrada de ferro do centro da cidade. Foi também presidente do Daea”, relembra Fábio Ferreira Batista, que também nasceu e foi criado em Araçatuba, mas mudou-se para Brasília (DF) em 1977, para estudar Relações Internacionais na Universidade de Brasília (UnB).
Ferreirinha pertenceu ao time de vereadores que não eram remunerados. Via a política como um serviço prestado à comunidade. Quando passou a se pagar pela atividade parlamentar, ele dizia que a qualidade dos vereadores decaiu, pois não havia mais o interesse genuíno em colaborar com a população.
O autor do livro conta, ainda, que o Integralismo, movimento político conservador, de extrema direita, surgido no Brasil na década de 1930, foi muito forte na vida de seu pai.
“Ele era um político vocacionado, atuava como vereador. Às vezes, até em prejuízo da própria família”, afirma o filho Fábio. Além da carreira política, Ferreirinha tinha formação em Contabilidade e Direito.
Lucidez e longevidade
Até os 104 anos de idade, Ferreirinha seguiu lúcido. Era possível encontrá-lo caminhando pelas ruas da cidade, com disposição invejável, sempre pronto para um dedo de prosa. Costumava também ser muito procurado para entrevistas, pois era uma verdadeira memória viva da história da cidade.
O ex-vereador faleceu por complicações causadas pela idade, em julho de 2023, oito anos após perder a esposa, em 2015.

A origem baiana
Se a origem de Ferreirinha é de Portugal, a de Maria Amanda Ladeia é da Bahia, mais precisamente do município de Caetité.
Em meio às pesquisas no cartório daquela localidade, Fábio Ferreira Batista descobriu duas tetravós negras. “Encontrei dois registros de óbitos em que elas são descritas como pardas”, conta.
Ele afirma que houve uma mistura de mulheres afrodescendentes com homens brancos entre seus antepassados. “Isso confirma a pesquisa genética que aponta a minha descendência a partir de um homem europeu e uma mulher africana. Tenho 5% de iorubá”, afirma.
Protestantismo
Outro aspecto descoberto, que acabou se transformando em uma feliz coincidência para o autor, foi quando soube que a família de sua mãe era protestante. Sua avó materna, que saiu da Bahia e veio para Araçatuba em 1928, para se encontrar com o esposo, frequentava a Igreja Metodista que ficava ao lado da antiga Igreja Matriz, na Praça Rui Barbosa.
“Quando eu nasci, minha mãe já era católica, mas quando comecei a fazer a pesquisa, lendo os registros, descobri que na certidão de casamento dos meus avós tinha a assinatura de um pastor da Igreja Presbiteriana. A coincidência é que eu me tornei presbítero na década de 1970, sem saber dessa história”, conta.
O aspecto interessante, segundo ele, é que há uma associação entre a história da família de sua mãe com os missionários presbiterianos, que tiveram importante atuação na construção de escolas e hospitais no Brasil, no início do século 20.
O autor do livro conta que, além da formação em Relações Internacionais, possui mestrado em história e doutorado em Ciência da Informação, ambos pela UnB. Possui também mestrado pela Johns Hopkins University (Washington, DC, EUA).
Fábio Ferreira Batista trabalhou 30 anos no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), instituição pública federal responsável pelo levantamento e divulgação de dados econômicos do Brasil.
Atualmente, atua como consultor de empresas e ministra treinamentos sobre gestão do conhecimento nas organizações.
Serviço
- Lançamento do livro:
- “Genealogia das famílias de Maria Amanda Ladeia e José Ferreira Baptista Júnior”
- Autor: Fábio Ferreira Baptista
- Onde: Biblioteca Pública Municipal Dr. Rubens do Amaral (Rua Armando Sales de Oliveira, 277), bairro Bandeiras, Araçatuba (SP)
- Quando: Sábado, 17 de maio, às 18h
- O livro será comercializado a R$ 100,00