Por Antônio Reis
Araçatuba comemora 116 anos neste 2 de dezembro, Dia Nacional do Samba, mas comemora com música sertaneja. A efeméride foi escolhida porque nesse dia, no tempo do “guaraná com rolha”, Ary Barroso, então a maior expressão do samba-exaltação, visitou a capital baiana pela primeira vez. E um exaltado vereador da cidade propôs que o 2 de dezembro fosse o Dia do Samba. A homenagem, inicialmente municipal, se popularizou e ganhou vulto nacional.
Assim, não seria mais autêntico Araçatuba comemorar o aniversário com shows de samba, com artistas locais que têm se mostrado competentes nos barzinhos, restaurantes, festas familiares e apresentações esporádicas? Convidar os talentos araçatubenses que ganham a vida em grandes centros e até no exterior? Seriam apresentações mais intimistas, mais autênticas e mais baratas, ainda que se pagasse bons cachês.
Talvez a medíocre administração municipal quisera agradar a população araçatubense que na última eleição presidencial deu 70% de votos ao “capitão”, recém-indiciado pela Polícia Federal por três crimes, pois é de conhecimento geral a simbiose entre o bolsonarismo e o pop-agro-sertanejo, o máximo que a extremismo verde-amarelo atingiu em padrões estético e cultural.
O cafona Amado Batista, maior celebridade dos 116 anos e ilustre aliado do “capitão”, a exemplo deste, andou falando bobagens das grossas e hoje ambos, supostamente arrependidos, pedem desculpas para se livrar de condenações na Justiça. Dois “arregões”. Cria e criador perderam nas urnas e podem perder também nos tribunais, embora façam sucesso nos palcos da Velha Senhora, como alguns, por falta de criatividade, se referem a Araçatuba.
E por falar em cultura e urnas, na eleição deste ano a cidade teve cinco candidatos à prefeitura, sendo quatro terrivelmente bolsonaristas. O quinto debandou para o fisiologismo quando o bicho pegou em 2016 e neste ano tentou voltar atrás. E não apenas tentou, como ficou atrás dos quatro concorrentes. Possivelmente os shows dos agroboys já estavam contratados desde antes da eleição e, mesmo com a derrota do candidato da situação, não foi possível desfazer o negócio. Ou seja: “Já que tá dentro, deixa”.
Voltando ao 2 de dezembro, reafirmo a beleza do aniversário da cidade se comemorado com samba. Que o pop-agro-sertanejo fique para as comemorações do 8 de janeiro. Justifico com este texto minha abstenção aos shows deste final de semana. Quanto à minha abstenção às urnas neste 2024, farei oportunamente à Justiça Eleitoral. Parabéns Araçatuba pelos 116 anos.
Antônio Reis é jornalista, fotógrafo diletante e ativista cultural.