Transe em Pindorama 

“O problema é que no Brasil politicalha costuma se sobrepor à política”, diz Adelmo Pinho, em seu artigo “Transe em Pindorama”.
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Por Adelmo Pinho*

Pindorama, Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz e finalmente Brasil! Tempo … Tempo … Tempo …  Mas, o que mudou? O Brasil avançou? Socorro-me da filosofia para contextualizar e tentar responder: para Platão, a mais importante atividade humana é a política, porque tudo dela decorre. O problema é que no Brasil politicalha costuma se sobrepor à política.

Com isso, interesse de grupos têm primazia sobre o bem comum ou da coletividade, sendo essa cultura arraigada e institucionalizada. Existe segurança jurídica no país? Indaguem a investidores, em especial estrangeiros. A lei, por si, é boa, mas deixa de sê-lo quando aplicada sem retidão e virtude.

A educação no Brasil, enquanto direito do cidadão e dever do Estado, mola propulsora de desenvolvimento, como está? Consultem o PISA – Programa Internacional de Avaliação de Alunos. E a saúde, prevista pela Constituição da República como direito de todos e dever do Estado? Dependa do SUS e verás … Por que o crime organizado cresce no Brasil e a segurança pública não recrudesce? Faltam políticas públicas adequadas; quando não, desinteresse por parte de alguns a esse combate.

Outro câncer: a desigualdade social aumenta e a “classe média” está sob ameaça de extinção. Segundo o IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – O Brasil é conhecido por sua alta concentração de renda, onde o 1% mais rico da população detém 28,3 % da renda total, tornando-o um dos países mais desiguais do mundo.

O Brasil, portanto, vai mal, se comparado a outros países, com milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha de pobreza.

A explicação de gestores públicos é: a receita não é suficiente para arcar com as despesas. Evidente que não há recurso suficiente para tudo; mas, por outro lado, governos continuam a gastar por má-gestão, com Emendas “Pix”, corrupção … A adoção por governos de políticas efêmeras (de governo e não de Estado) faz com que dinheiro público escoe pelo ralo.

A manutenção de “feudos” no setor público é outra mazela, com regalias de toda natureza. A verdade é: se o Estado deixasse de ser incompetente, o Brasil seria um país desenvolvido, já que tem tudo para crescer.

O brasileiro, em meio a tudo isso, tem que fazer mea-culpa, pois é o cidadão quem escolhe seus representantes através do voto. E mais: a nossa letargia ou normose chama à atenção! Não se pretende que o cidadão brasileiro seja belicoso, porém, tampouco inerte. A mudez do brasileiro é ensurdecedora; com isso, prevalece o “grito dos maus”.

O herói do nosso país é o povo, não Macunaíma. É preciso cobrar dos Poderes Constituídos e das Instituições Públicas efetividade e ética! No Brasil muito se subtrai e quase ninguém soma. Enfim, infelizmente, a “Oração aos Moços” de Rui Barbosa não surtiu efeito: os moços de então envelheceram e se foram, enquanto o Brasil continua o mesmo.  

Adelmo Pinho é articulista, cronista e membro da Academia de Letras de Penápolis e da Academia Araçatubense de Letras. *

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