Por Danton Leonel de Camargo Bini e Renan Silva Salviano*
Faz 61 anos o Brasil adentrava a fase mais sombria de sua História. Financiados pelos Estados Unidos da América, militares e a elite econômica mais retrógrada instalaram um regime fascista que bloqueou o desenvolvimento brasileiro por uma geração. Alegando o combate ao Comunismo, na verdade essa elite se contrapunha às reformas sociais que João Goulart, o então presidente, estava instalando no Brasil.
Por mais de 20 anos, a população não pôde escolher os melhores projetos para o país, e aqueles que ousaram desafiar o regime ditatorial foram presos, torturados e até mortos. Muitos tiveram que se exilar para fugir da perseguição que sofriam. Jornais foram fechados e a imprensa livre foi banida.
Perdemos de 1964 a 1985 a oportunidade de avançar rumo ao desenvolvimento. Uma juventude que poderia ter contribuído para projetar de forma democrática inovações e tecnologias foi submetida a um crescimento econômico excludente que aumentou a concentração da riqueza e a expansão da miséria.
Herdamos desse período uma urbanização mal ordenada, fruto de um êxodo rural forçado de milhões de camponeses. Favelas sobre favelas sobrepuseram uma paisagem degradante de metrópoles acéfalas que serviam e servem aos interesses dessa mesma elite golpista de 1964.
De 1985 a 2016 o Brasil viveu avanços consideráveis na economia e na política. A Constituição Cidadã de 1988, o Plano Real e o SUS são exemplos de como numa concertação entre Direita e Esquerda, de forma democrática, podemos avançar em políticas públicas inclusivas.
Contudo, todos esses avanços foram realizados em um modelo de democracia que não levou ao cotidiano do povo a participação ativa nas definições de projetos. Com o advento das tecnologias da informação, e principalmente com a introdução das redes digitais, centelhas do ideário fascista passaram a pulverizar o ódio em grupos que cresceram vertiginosamente na última década.
Culmina-se com a disseminação de posições extremistas defensoras da volta do regime militar no Brasil, alimentadas por falsas percepções de luta contra o Comunismo (como em 1964). O dia 08 de janeiro de 2023 se apresenta como o ápice desse movimento, com a tentativa da instalação de uma Ditadura Militar em nosso país.
Esse fato foi um alerta que requer uma reflexão ampliada dos erros cometidos pela Democracia brasileira e dos caminhos que teremos que trilhar para evitar novamente a instalação de um regime fascista em nosso país (seja de Direita ou Esquerda).
E dando um ponto de luz, a maior obviedade desse processo é que teremos que criar ferramentas que levem a participação popular para todas as importantes decisões a serem tomadas, independente da representatividade exercida pelos Executivos e Legislativos eleitos. É com mais Democracia que sairemos dessa crise.
Deve-se implementar uma reforma política na qual a população passe a votar em projetos ao invés de pessoas e a implementação política daquilo escolhido pelo povo ficaria à serviço de técnicos capacitados via Concurso Público e não por políticos profissionais eleitos. Há tecnologia que permita esse avanço. Precisamos criar as condições para isso!
*Danton Leonel de Camargo Bini. Pesquisador Científico. Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo
*Renan Silva Salviano é advogado, professor, palestrante e especialista em Educação em Direitos Humanos pela Universidade Federal do ABC (UFABC)